O ócio e o negócio segundo Sêneca

A idéia de que aprender a viver o ócio, aprender a viver sem preocupações muitas vezes até de ser retirado é importante para ter uma vida feliz...

E retirado do quê? Retirado da confusão, da correria do dia à dia.

E pra gente entender um pouquinho melhor essa idéia, eu queria resgatar um conceito clássico, que é muito interessante, que é o de escola, numa das etimologias da palavra escola nós encontramos o termo scholé que é a soma de dois elementos: o negócio e o ócio, então num mundo clássico quando se fazia escola, se fazia scholé, se fazia ócio e negócio, era um lugar onde eu ia aprender a fazer ócio e negócio, aprender a fazer negócio, simples...a gente ia prá lá aprender as coisas que eu preciso saber pra poder sobreviver, então eu tenho que aprender a fazer conta, aprender a fazer gramática, o que mais eu tenho que saber? São as coisas que eu tenho que aprender para poder sobreviver na vida, isso é aprender a fazer negócio.

A escola tinha que capacitar o ser humano para isso, porque todo ser humano precisa ser independente, precisar poder ser produtivo e manter a si mesmo e cooperar com a sociedade, então aprende-se a fazer negócio. Mas também se aprendia a fazer ócio.

E o que é o ócio?

“ O ócio era a atividade interior, então o ócio é: Reflexão, Meditação, Planejamento, Avaliação, Contemplação, todas essas atividades que nós fazemos sozinhos e em silêncio, toda essa grandiosa atividade, todas essas fartas atividades que se passam dentro do ser humano.”

Então imagina que nós não nascemos sabendo refletir, que a gente não nasce sabendo contemplar, não é assim, isso precisa ser desenvolvido, isso precisa ser estimulado, precisa ser treinado.

Então imaginem que nesse mundo clássico as pessoas eram treinadas para isso nas escolas, com o passar do tempo a escola foi perdendo esse caráter, focando muito no negócio e a gente não foi mais ensinado a fazer ócio, ao ponto de que ninguém sabia mais fazer ócio.

E ócio significa o que hoje em dia? Fazer Nada!!!

Porque nós não sabemos movimentar essa vida interna e isso tem muita importância, isso dê de vez em quando a gente saber se retirar da correria do dia a dia. Você foi lá correu de um lado para o outro, estudou, trabalhou, mas de ter um momento que você consegue fazer uma reflexão, ter um momento de que você consegue contemplar uma obra de arte, você consegue contemplar o sol se pondo, você consegue parar e fazer uma avaliação do seu dia e fazer um registro no final do dia num diário para que você se perceba, se veja.

Tudo isso é fundamental para o nosso crescimento, tudo isso nos recarrega, tudo isso nos permite fazer os ajustes que a vida precisa, pra que o dia de amanhã seja melhor que o de hoje e assim a gente continue se realizando naquilo que nós somos.

Então perceber que esse excesso de correria, esse excesso de preocupação, tudo isso tira de nós essa capacidade de viver esses momentos de retiro. E esse retiro não precisa ser para subir numa montanha, pode ser feito aqui e agora nesse minuto. Às vezes um minuto de silêncio basta, aquele momento que você se levanta no seu trabalho, vai ali tomar água e volta já pode ter sido esse momento de centro, de reencontro consigo mesmo.

Não é uma questão de quantidade de tempo fazendo isso, é uma questão de integrar esses elementos na vida, de forma que na vida você vai tensiona, distensiona, tensiona, distensiona, a vida fica natural, o nosso problema é que a gente tensiona e vai assim até estourar, e vai perdendo assim a felicidade.

“A Psiquê vai se machucando, vai adoecendo e com isso a felicidade vai indo embora.”

Então dentro desse contexto de uma vida simples, pensemos em nos preocupar menos em adquirir tantas coisas, até porque nós não precisamos delas, estamos realizados por dentro, para que haja espaço para coisas como essas para a nossa vida interior, por exemplo para o ócio.

Fonte:

Texto transcrito do vídeo O ócio e o negócio segundo Sêneca – Profª Kelly Aguiar de Nova Acrópole, no YouTube.